"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Só trocar ministro não basta


Do ponto de vista da segurança no emprego, 2011 foi um ano insólito no Planalto. A presidente da República foi obrigada a demitir sete dos seus ministros – seis dos quais por suspeitas de corrupção  e malversação de verbas públicas reveladas pela imprensa.
O que foi chamado, não sem certo exagero, de “faxina” representa um passo importante no restabelecimento de um código de conduta rigoroso para os ocupantes de cargos públicos. Ao mesmo tempo, entretanto,  levanta uma questão não menos relevante: de que adianta, afinal, trocar ministros se os seus substitutos forem virtualmente idênticos em termos de valores e capacidade de gestão, devendo o cargo aos acordos de sustentação política do governo e tendo fidelidade apenas a seu partido?
Em outras palavras, de que adianta mudar os titulares se permanecem o sistema básico de loteamento do governo e seu aparelhamento com duas dezenas de milhares de companheiros mal qualificados?
Essas perguntas conduzem-nos, inevitavelmente, a duas conclusões fundamentais. Primeiro, e principalmente, fica claro que já passou da hora de mudar o sistema cujo funcionamento propicia todas essas distorções. Pois não é admissível que um país do tamanho, complexidade e nível de desenvolvimento do Brasil continue sendo administrado por caciques políticos sem preparo, competência ou conhecimento especifico, muito mais empenhados em fortalecer suas máquinas partidárias para a próxima eleição do que em preparar o país para a próxima geração.
Para que serve a tão decantada base aliada (que começou o ano com cerca de 80% das cadeiras no Congresso Nacional) se não for para fazer as reformas básicas tão essenciais e tão proteladas há mais de nove anos?
Sem querer aliviar em um grama sequer o peso da primeira conclusão, é preciso admitir que não é nem justo nem inteligente atribuir todos os problemas nacionais a um punhado de políticos em Brasília. É ingênuo acreditar que bastaria aprovar algumas leis adicionais para resolver todos esses desvios.
Isso nos leva à segunda e fundamental questão: a relação básica de cada um de nós, brasileiros, com a ética no cotidiano. Como podemos pretender ter governantes comportando-se eticamente se nós, que os elegemos, não nos preocupamos com isso ao “dar um jeito” aqui, pagar uma comissão ilegal ali, sonegar um pouquinho acolá e fazer uma ou outra contribuição “não contabilizada” a essa ou aquela campanha? Como exigir que na esfera federal o governo seja eficiente e honesto se fechamos os olhos aos maiores descalabros nos âmbitos municipais e estaduais? Como exigir que os culpados pelos “malfeitos” sejam punidos se o Judiciário continuar demorando anos e anos para julgar praticamente qualquer caso e, no fim, absolver a esmagadora maioria dos corruptos que tiveram bons advogados?
Evidentemente, é muito mais fácil formular essas perguntas do que fazer as mudanças necessárias. Mas, enquanto não nos empenharmos em cumprir as nossas promessas, dar o exemplo aos nossos filhos, cobrar as explicações necessárias dos nossos governantes, manifestar a nossa insatisfação na imprensa, na internet e nas ruas e passarmos a nos comportar como verdadeiros cidadãos responsáveis pelo país em que queremos viver, podemos ter a certeza de que muito pouco vai mudar – e, mesmo assim, muito lentamente.
Como sempre, as grandes mudanças dependem e começam em cada um de nós. Elas são, no fim, a soma do nosso empenho e esforço individuais.
Roberto Civita

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