"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O mundo e o Brasil em 2012

Basicamente, o modelo de gestão econômica adotado no país segue um padrão único que mistura: capitalismo privado, capitalismo de Estado, forte arrecadação tributária, intervenções relevantes do governo na economia, gastos com políticas sociais, câmbio com flutuação suja, controle de inflação, criação de empregos, geração de superávit primário e reservas elevadas. Esse modelo desperta críticas apaixonadas em muitos por não executar algumas das reformas constitucionais pendentes e/ou por não tratar de nossos desafios com uma abordagem menos estatizante e intervencionista.

No entanto, tal modelo está dado e só mudará se ocorrer um evento de repercussões planetárias. No atual momento, a questão econômica assume papel importante no controle político e social do país. Sem uma gestão econômica popular, o governo sucumbiria. Primeiro, por conta da desagregação da base política. Segundo, pelos ataques que receberia dos ex-aliados. Por fim, a mídia e a sociedade civil organizada terminariam o serviço. Existe uma dicotomia nas expectativas para a economia em 2012. O governo tem uma expectativa de crescimento perto de 5%. Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresenta uma visão mais pessimista (3%), baseada nos gargalos da economia brasileira, entre eles, tributos, burocracia e falta de competitividade.

Sem contar o ambiente internacional, que pode vir a travar o desempenho do país no próximo ano. Ao avaliar a conjuntura para 2012, é razoável esperar que a economia no Brasil, impulsionada pelo mercado interno, produza crescimento e emprego sem gerar inflação politicamente significativa nem ameaçar os fundamentos que orientam a gestão econômica. Os sinais de aquecimento já podiam ser sentidos neste final de ano. Para a Associação Comercial de São Paulo, o otimismo dos consumidores já revela o impacto psicológico positivo das medidas de estímulo ao consumo, tais como a redução da taxa de juros e de impostos, entre outras. 

O otimismo no final do ano também foi captado pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro, que apurou que os brasileiros vão gastar mais no Natal de 2011. Assim, acreditamos que é possível crescer acima dos 4%. O bom desempenho da economia em 2012 deve ser assegurado por diversos fatores: pela gestão econômica, que desperta confiança em investidores, empresários e consumidores; pelo gasto público, orientado para a infraestrutura; pelo consumo, estimulado tanto por medidas de crédito quanto pelo novo salário mínimo; e pelos programas sociais, que visam eliminar a pobreza absoluta no país.
Deve-se considerar, ainda, a ocorrência das eleições municipais, que aceleram os gastos públicos no primeiro semestre e os gastos com as campanhas eleitorais a partir de julho.



Com o descontrole econômico, o governo perderia as condições de coordenar a sua base política e seria inviabilizado politicamente. Há outros aspectos políticos, contudo, que merecem ser examinados. O novo ano traz o desafio da anunciada reforma ministerial e das eleições municipais, que são, nas atuais circunstâncias, orientadas pelas agendas locais.

Reforma ministerial. Dilma herdou um ministério cuja proposta era manter o ritmo anterior e assegurar uma transição suave para a nova era presidencial. A sucessão de escândalos catapultou diversos ministros. Como consequência, ela promoveu ajustes que ainda não firmaram a sua imagem como presidenta em seu ministério. Foram ajustes de emergência. Com a reforma do primeiro trimestre de 2012, Dilma vai conciliar o padrão atual da coalizão – que é fracamente desequilibrado em favor do PT – com a escolha de nomes que sejam mais identificados com o seu perfil empreendedor.

Eleições municipais. Sem uma grande crise econômica para dominar o noticiário e promover a sua repercussão no eleitorado, a eleição de 2012 deverá ser pautada por questões locais e pela influência preferencial dos governadores de estado no jogo. Ainda que desodorizada das questões nacionais, as eleições municipais têm repercussões sérias na disputa presidencial de 2014. Primeiro pelo fato de que aliados da esfera federal (PT, PMDB, PSB, entre outros) vão se enfrentar em confrontos diretos em algumas capitais (São Paulo, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e mais algumas).

O segundo aspecto é que alguns partidos veem a disputa eleitoral como forma de cacifar o seu peso político para 2012 (daí o PMDB querer lançar candidato em São Paulo e o PSB querer fazer o mesmo em Recife). Um bom desempenho nas eleições municipais pode pavimentar o caminho para uma candidatura presidencial ou um lugar “vip” nas chapas da disputa em 2012 (tema que interessa ao PMDB, que quer continuar como vice de Dilma; e ao PSB que sonha lançar Eduardo Campos como a terceira via).

Na oposição, os sonhos de 2014 também têm repercussão em 2012. Serra almeja manter sua influência na cidade de São Paulo. Aécio em Belo Horizonte. O PSD também deseja crescer na esfera municipal de olho em 2014. O tema eleitoral municipal é de longe o evento mais importante da agenda política no ano. Mais de 70 deputados devem disputar prefeituras e as votações no Congresso, a partir de agosto, tendem a perder ritmo. Três certezas emergem, portanto, das tendências: o PT continuará maior do que deveria frente à sua representação parlamentar na reforma ministerial; Lula continuará a ser a inspiração maior do governo e em sintonia permanente com Dilma, que tem grande autonomia de gestão e tende a continuar assim na medida em que sua gestão for popular; os conflitos da base prosseguirão e serão mais acirrados devido às eleições municipais.



O Brasil é um país paradoxal. Mesmo sendo a sexta economia do mundo e tendo um PIB maior do que, por exemplo, o Reino Unido, ainda apresenta baixo impacto no cenário internacional. Apesar de ser um dos maiores exportadores de commodities do mundo, sua participação no comércio mundial é pálida – menos do que 5%.

E embora seja um dos destinos prediletos de investimentos estrangeiros em todo o planeta, o capital estrangeiro não representa 20% do PIB do país. Em 2012, o Brasil continuará a sua lenta progressão rumo ao estrelato mundial. Seremos cada vez mais conhecidos. Exportaremos um pouco mais. Teremos mais investimentos estrangeiros. Como consequência, estaremos mais expostos aos humores de um mundo em crise econômica. A Europa estará em recessão e os Estados Unidos, provavelmente, estarão saindo lentamente dela.

Nesse cenário, nosso relativo isolamento, os fundamentos de nossa gestão econômica e a dinâmica de nosso mercado interno nos dão certa proteção e tranquilidade. Tanto por conta de nossas reservas quanto pela nossa capacidade de vender o que o mundo precisa, mesmo em crise. Por um lado, um mundo em crise afeta as exportações. Por outro, a maior oferta de produtos no país combate a inflação.

Para o bem do Brasil, estarmos um tanto distantes da confusão global é uma boa coisa. Em consequência, o quadro interno – ainda que não se configure ideal – será de satisfação da sociedade, que devolverá a sua boa percepção do ambiente político na forma de índices elevados de satisfação popular. No campo social, examinando os sinais identificáveis, e a despeito das articulações contra a corrupção e de estudantes por conta de agendas específicas, a desestabilização da sociedade parece improvável.

Junto à população, apesar da irritação de muitos, o ambiente psicossocial é favorável ao governo e isso se configura de forma hegemônica nos dias de hoje. Combinam-se, favoravelmente, a imagem positiva de Dilma e o desempenho do seu governo na economia. O que resulta em uma massacrante aprovação, por um lado, e um imenso desinteresse pelas agendas propostas pela oposição. Nesse sentido, falta ao Planalto uma estratégia de comunicação institucional efetiva, ainda que, de certa forma, a comunicação pessoal de Dilma seja mais do que adequada.

Mas ajudaria ao governo e à sua imagem se suas ações obtivessem maior repercussão. Não apenas por meio de anúncios, aos quais ninguém presta atenção. Entretanto, a lógica publicitária não deve presidir as estratégias de comunicação. Nem apenas buscar a imprensa como canal preferencial de comunicação. É uma tarefa difícil, já que, muitas vezes, o filtro da imprensa joga em dois campos que não interessam à cidadania: às vezes deixa de noticiar ações positivas do governo para não ser tachada de “chapa branca”; às vezes entra no mercado se vendendo em troca de anúncios gordos.

Murillo de Aragão 

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