"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

terça-feira, 14 de junho de 2011

Yes, nós temos Família Real



Recentemente, os brasileiros acompanharam pela televisão a cerimônia do casamento real mais badalado do século XXI. 


Foi uma emoção! Era o dia 29 de abril, uma sexta-feira, quando o príncipe William, 28 anos, segundo na linha de sucessão ao trono da Inglaterra (Reino Unido), filho do príncipe Charles e da princesa Diana, e, portanto, neto da rainha Elisabeth II, finalmente casava-se com a plebéia Catherine Midlledeton, 29 anos. 


A cerimônia foi na Catedral de Westminster, em Londres, lotada de convidados, incluso reis, rainhas, príncipes, princesas e artistas como Elton John. 


Dias antes, a cidade já estava em clima de festa. As bodas reais eram o assunto principal de jornais e revistas, dos blogs e sites da internet, as lojas esmeraram na decoração das vitrines que exibiam retratos dos sorridentes e simpáticos noivos. 


E mais: a festa nupcial  iria ser transmitida ao vivo pela TV para mais de uma centena de países e cerca de dois bilhões de espectadores. Imagina! Feriado na capital inglesa, o evento conseguiu atrair 1,5 milhão de pessoas, entre súditos e turistas, muitos jovens, inclusive, que foram às ruas sob um frio bem bacana para acompanhar de perto a passagem do cortejo real. 


E depois, claro, a apoteose do aguardado beijo entre os noivos, na sacada do Palácio de Buckingham. 


A concentração popular foi na belíssima praça do monumento em memória da Rainha Vitória, em frente ao palácio, mostrada à exaustão na televisão.  Mas o que se viu naquele dia foi uma festa da renovação, da consagração da monarquia britânica. Uma festa democrática. Curiosamente, tudo aconteceu numa época em que do lado de cá, na chamada república brasileira, muitos ainda pensam tratar-se de uma coisa ultrapassada. 


Nada. A tradição sabe lidar muito bem com a modernidade. 


Ora, a celebração que cerca esses eventos monárquicos historicamente sempre rima com a estabilidade das instituições. E, reconheçamos, não faz mal a país nenhum... Daí, a empatia, muitas vezes mesclada de uma ponta de indisfarçável inveja, que o casamento real no Reino Unido, mais uma vez, provocou nas mídias internacional e nacional.

Saudades da monarquia! No Brasil, para muita gente, o casamento real teve um pouco deste sentimento. Pena que as transmissões da Rede Globo não tivessem aproveitado o momento para captar melhor essa sensação de perda, de percepção da grandeza que as monarquias passam sutilmente para as pessoas, fustigando corações e mentes. 



Foi assim aquela última sexta-feira de abril... A cobertura jornalística da TV Globo foi muito boa, em que pesem alguns deslizes, por exemplo, evitar falar de História, da nossa história, também. 


Afinal, televisão é para educar o povo ou não? Deixar passar em branco certas informações, mesmo sendo provocativas, é insensato. Será que algum espectador, mesmo de raspão, não parou para pensar: Ué, o que temos a ver com esta festa toda? 


Ou até ignorar – claro, as escolas ensinaram e ainda ensinam tão pouco sobre o Brasil Império -- que já fomos uma monarquia-parlamentarista! 


O certo é que nenhum jornalista global, teve a idéia de provocar a discussão em torno da nossa herança monárquica, indagar dos brasileiros o que sabem de monarquia, o eles sentiam vendo um casamento real tendo tanta repercussão. 


Ou mesmo entrevistado um membro da família real brasileira. 


E olhe que eles existem, sim. Estão por aqui mesmo, em Petrópolis, no Rio, São Paulo. É só procurar... Ou seja, os descendentes do Imperador D. Pedro II  e da Princesa Isabel se multiplicaram com o passar do tempo, porém, qualquer um deles poderia falar com orgulho de seus bisavós, da grandeza de nação que sonhavam para o Brasil e até mesmo das agruras do exílio na França. Um exílio vergonhoso

Para quem não sabe, após o golpe militar de 15 de novembro de 1889, que impôs o regime republicano-presidencialista no país, a família imperial foi expulsa e embarcada às pressas no cais do Rio de Janeiro, na surdina da noite, num navio, para o exílio europeu. 



A imperatriz Tereza Cristina, esposa de D. Pedro II, não resistiu por muito tempo, adoentada, veio a falecer pouco tempo após o desembarque em Portugal. O imperador, que já vinha doente, veio a falecer no ano de 1891, em Paris, aos 66 anos. A lei de banimento só foi suspensa pelo presidente Epitácio Pessoa, na década de 1920, o que permitiu o retorno ao país dos descendentes do monarca e da Princesa Isabel, herdeira legítima do trono brasileiro. 


Filhos e netos da família Orléans e Bragança arrumaram suas vidas por aqui e hoje exibem uma prole invejável do que poderíamos chamar de essência da monarquia brasileira. 


Coisas da História do Brasil. Um país que, paradoxalmente, ainda luta para reencontrar-se consigo mesmo, com suas origens institucionais. São 122 anos desde o golpe. Equívocos que até hoje não foram reparados e permitiram que essa nação traçada para brilhar permaneça ainda um tanto perdida, sem um prumo, sem uma personalidade institucional firme. 


Aliás, aí temos uma coisa bem dialética. Capaz de ser facilmente retirada das páginas dos livros que falam da formação da nação brasileira. Por sinal, existe um livro, publicado recentemente, que comprova isto. 


Campeão de vendas no país, Best-seller da revista “Veja” por vários meses (entre os de Não-Ficção), “D. Pedro II – Ser ou Não Ser” (Editora Cia. das Letras), escrito pelo jornalista e historiador José Murilo de Carvalho, traça um emocionante perfil do nosso rei-cidadão, a sua formação de estadista, o amor incondicional pelo Brasil e a visão de futuro, que o tornaram, mais ou menos no dizer do autor do livro, “o mais republicano dos monarcas”.    


Pois é. A família imperial brasileira teve sua origem na família real portuguesa e descendia diretamente da Casa de Bragança, juntamente com as casas de Habsburgo e Bourbon. 


Foi a família soberana durante todo o período chamado Império do Brasil, ou seja, desde a fundação da nação, com a Independência, a 7 de Setembro de 1822 até a queda da monarquia-parlamentarista em 15 de novembro de 1889, com o advento da república-presidencialista.

Ramo dinástico atual


As imperatrizes do Brasil Império foram D. Maria Leopoldina de Habsburgo (1822-1826), esposa do Imperador D. Pedro I; D. Amélia de Leuchtemberg (1829-1831), segunda esposa de D. Pedro I; e D. Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias (1842-1889), esposa do Imperador D. Pedro II.  



Com o casamento de D. Isabel do Brasil (a herdeira legítima de D. Pedro II) com o príncipe Gastão de Orléans, O Conde d'Eu,  em 1864, a Casa Imperial Brasileira associava-se então à Casa de Orléans, francesa, iniciando o atual ramo dinástico do Brasil que até os dias de hoje denomina os descendentes reais de Orléans e Bragança


Com a república, a família imperial seguiu para o exílio na França e Áustria, onde os filhos e netos foram educados. Somente no governo do presidente Epitácio Pessoa, de 1919 a 1922, os descendentes da família imperial exilada foram autorizados a regressarem ao Brasil. Atualmente, conta com centenas de membros espalhados entre o Brasil e a Europa.

A princesa Isabel do Brasil era a filha herdeira de Dom Pedro II, assim, os descendentes dela compõem o atual ramo dinástico brasileiro e, portanto, a titularidade de todos os títulos nobiliárquicos. 



Um ramo da família hoje vive em Petrópolis (RJ). Entre os descendentes do casamento da Princesa Isabel com o Conde d'Eu, que formou os Orléans e Bragança, existem dois ramos dinásticos que disputam o  trono do Brasil e inclusive participaram ativamente da campanha do Plebiscito de 1993.  


Então, os descendentes do primogênito do casal, D. Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança, são chamados de o ramo de Petrópolis (Príncipe de Petrópolis), ao tempo que os descendentes de seu irmão, segundo filho do casal, D. Luís Maria Filipe de Orléans e Bragança, chamados de ramo de Vassouras
(Príncipe de Vassouras), são os atuais detentores de jure do título de Príncipe da Casa Imperial do Brasil, cujos chefes atualmente são D. Luís Gastão de Orléans e Bragança, e seu irmão, D. Bertrand de Orléans e Bragança, o atual príncipe imperial, ambos oriundos do ramo de Vassouras e bisnetos da Princesa Isabel. 


Ainda nos dias de hoje, a nova geração de descendentes da família imperial brasileira pode ser encontrada em diversas áreas de atividade nacional. Lá estão eles, como estudantes, universitários, profissionais liberais, militantes de causas ambientais, artistas e até modelos, a exemplo da bela Paola de Orléans e Bragança. 


Portanto, brasileiros, temos sim família real. E todos, felizes, realizados e plenamente integrados à vida nacional, com direito a conviver diretamente com os anseios – e todas as aflições -- do nosso povo. Yes, o Brasil tem futuro!


Edvaldo F. Esquivel Baiano, jornalista e estudioso
da monarquia brasileira

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