"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Consequência de uma morte imperial


por: Dr. Amadeo-Martín Rey y Cabieses


No acidente do vôo da Air France AF447 que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris e que caiu entre a costa brasileira e a africana estava o filho maior do príncipe Antonio de Orleans e Bragança e da princesa Christine de Ligne. Que sua morte supõe para a causa monárquica brasileira?


O falecimento no passado 1º de junho do príncipe Pedro Luís de Orleans e Bragança, no acidente do vôo AF 447 causou uma mudança na linha de sucessão ao trono imperial do Brasil. Dos filhos do príncipe Pedro Henrique de Orleans e Bragança e da princesa Maria da Baviera, os filhos mais velhos, Luís Gastão, Chefe da Casa Imperial e Bertrand, são solteiros.


Seus irmãos, os príncipes Eudes, Pedro de Alcântara e Fernando, renunciaram aos seus direitos sucessórios – e por suas respectivas descendências – à Coroa Imperial do Brasil em 1966, 1972 e 1975 ao contraírem matrimônios desiguais. Estas circunstâncias implicaram que o príncipe Antonio, pai do falecido Pedro Luís, ocupar o terceiro lugar na linha sucessória. A morte de seu filho primogênito faz supor agora que seu segundo filho varão, Rafael, ocupe a quarta posição que o falecido detinha.


O príncipe Pedro Luís nasceu no Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 1983, primeiro de quatro irmãos. Bacharel em Administração de Empresas pelo IBMEC do Rio de Janeiro e pós-graduado em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, trabalhou primeiramente no Brasil e logo depois em um banco de Luxemburgo. Participava freqüentemente com seus tios, pais e irmãos em eventos monárquicos pelo Brasil.


Precisamente em 6 de junho devia celebrar-se o XX Encontro Monárquico, que foi suspensa pelo seu tio Luís, assim como, a Missa em Ação de Graças e o almoço por seus 71 anos, que deveria acontecer em 7 de junho. Em certa ocasião viajou a Portugal em que representou a Casa em uma reunião promovida pelos Arautos d’El Rei, grupo de jovens monarquistas de Portugal, e pela Juventude Monárquica que deu origem ao projeto Rumo aos 500 anos, no qual estavam presentes o príncipe Duarte Pio, duque de Bragança e chefe da Casa Real de Portugal e sua esposa. Muitos monarquistas brasileiros haviam depositado sobre ele as suas esperanças em uma futura restauração. Detinha as Grã-Cruzes das Ordens de Dom Pedro I e da Rosa.




Neto materno do príncipe Antonio de Ligne, Grande de Espanha e neto paterno de uma princesa da Baviera, a tragédia tem atingido novamente a linhagem dos Wittelsbach, cujos membros das últimas gerações sofreram mortes violentas ou prematuras: o misterioso afogamento do rei Luís II da Baviera e de seu médico, no lago Starnberg, perto do castelo de Berg, em 1886; a morte de Sofia da Baviera, duquesa de Alençon, carbonizada no incêndio de um Bazar de Caridade de Paris em 1897; de sua irmã Isabel, imperatriz da Áustria, assassinada na beira do lago Genebra, em frente ao Hotel Beau Rivage, em 1898; o suposto suicídio de seu filho Rodolfo em Mayerling, em 1889, precisamente no mesmo ano em que o imperador Pedro II do Brasil perdia seu trono através de um golpe militar do marechal Deodoro da Fonseca…


Agora bem, algumas pessoas têm me perguntado quais são as possibilidades que tem o Brasil em voltar o Império perdido. Bem poucas em meu juízo e com muito pesar. Ainda que tenha transcorrido quase um centenário desde a queda da Monarquia – causada pela decisão da princesa regente Isabel do Brasil, chamada a Redentora, de abolir da escravidão pela chamada Lei Áurea, que enfraqueceu a oligarquia latifundiária – a causa monárquica perdeu uma oportunidade de ouro quando aconteceu um referendo sobre a forma de Estado no Brasil.


Desde então, passado a inesperada antecipação da consulta popular de 7 de setembro para junho daquele ano, foi devido ao insucesso da opção imperial. Mas, em qualquer caso, perder o trem implica em ter que ir para outro meio de transporte ou esperar pacientemente pela passagem de um novo comboio ou a possibilidade que nunca passe de novo. Para muitos brasileiros a “cara visível” da Monarquia era o falecido príncipe Pedro Gastão de Orleans e Bragança – tio do rei Juan Carlos I, – que “desejava ser” chefe da Casa Imperial e pretendente ao trono apesar da clara renúncia de seu pai em 1908 ao casar com sua mãe, a condessa boêmia Elisabeth Dobrzensky de Dobrzenicz.


Pedro Gastão faleceu em 27 de dezembro de 2007 e seus filhos não demonstram grande interesse pela Monarquia. Hoje poucos discutem a chefatura do príncipe Luis Gastão, mas retornará a dar uma conjuntura política como a de 1993? Dom Pedro Luís foi nomeado em 1999 presidente de honra da juventude monárquica do brasil por iniciativa de seu tio Dom Luís. Se seu irmão Rafael, nascido em 24 de abril de 1986, ocupa-se com o mesmo empenho de promover entre seus coetâneos uma visão moderna e esperançosa da Monarquia, quiçá não logre mais que cumprir com seu dever, mas, não é isso já muito?


Tradução do artigo original em espanhol, disponível em: http://monarquiaconfidencial.com/pg_Articulo.aspx?IdObjeto=1589


Dr. Amadeo-Martín Rey y Cabieses é licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Navarra, além de ser Doutor em Historia pela mesma universidade, graduação acadêmica que adquiriu com a tese “El uso del ‘alias’en las Dinastías Reales Europeas.


Siglos XVIII a XXI”. Ele é também diplomado em Genealogia, Heráldica e Nobiliaria pelo Instituto “Luis de Salazar y Castro” do Conselho Superior de Investigações Científicas (C.S.I.C.), de Madrid. Rey Cabieses é autor de numerosos trabalho relativos à historia de dinastias reais e de famílias nobres.

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