"Nós, os monarcas, somos incontestavelmente constantes em um mundo em constante transformação. Pelo motivo de termos estado sempre aqui, mas também por não nos envolvermos na política cotidiana. Estamos informados das mudanças políticas que acontecem em nossas sociedades, mas não fazemos comentários sobre isso. É nisso que assumimos uma posição única. Nenhum dos outros monarcas europeus interfere na política."

Margarethe II, Rainha da Dinamarca

sexta-feira, 6 de março de 2009

O Brasil e suas Forças Armadas


Guerra do Paraguai - Conde D'eu no centro
As bases principais de todos os Estados – sejam novos, antigos ou mistos – são as boas leis e os bons Exércitos. (Maquiavel).


O autor é General-de-Exército e Presidente do Clube Militar
Gilberto Barbosa Figueiredo




Na área acadêmica e, ainda timidamente, através da imprensa, começa-se a discutir hoje o papel e dimensão das Forças Armadas que o Brasil deve manter, em face da sua já considerável projeção internacional e da lamentável situação de penúria em que, atualmente, se encontra seu estamento militar. O problema, é verdade, não pode ser considerado novo. A rigor, sempre que o Brasil precisou das suas Forças Armadas para defendê-lo em situações de emergência, encontrouas sem as condições ideais de emprego.


Assim aconteceu na Guerra da Tríplice Aliança, assim aconteceu na II Guerra Mundial e assim aconteceu até em episódios de distúrbios internos, como é exemplo o triste caso de Canudos. Em todos, somente não ocorreu o pior mercê do devotamento e da capacidade de superação de nosso soldado. Parece que, no imaginário dos brasileiros, está fixada a idéia de que Forças Armadas custam caro e, assim, vale a pena mantê-las quase desativadas, para incrementá-las apenas quando o perigo rondar. Nada mais falso.


Forças Armadas não se improvisam. Armamentos modernos exigem, às vezes, muitos e muitos anos de treinamento constante para que homens possam operá-los com perícia e segurança.

O correto, o que o mundo desenvolvido pratica, é manter Forças sempre prontas para uma resposta convincente às ameaças que possam advir. A título de ilustração, demonstro um dado comparativo entre alguns países, no que se refere a gastos com defesa em relação ao PIB, referidos ao ano de 2005: Turquia – 5,3%; China – 4,3%; Estados Unidos – 4,1%; Chile – 3,5%; Índia – 2,5%; Brasil – 1,3% (Fonte CIA).


Sobre o assunto, não se pode esquecer das palavras do Barão do Rio Branco: “Não depende da vontade de uma nação evitar conflitos internacionais. Mesmo Estados neutralizados, como a Suíça e a Bélgica, cuidam séria e patrioticamente da sua defesa militar, na previsão de possíveis complicações e ataques”. É incorreto o argumento de que os exércitos mais desenvolvidos ficaram em situação de tal disparidade em relação aos outros que não adiantaria sequer tentar um enfrentamento. A História tem-nos mostrado que forças modestas, mas bem treinadas, motivadas e adequadamente equipadas, tornam-se respeitáveis ante oponentes sensivelmente mais poderosos.


Mesmo que esteja afastada a possibilidade de vitória na acepção clássica do termo, em face de uma absoluta desigualdade de forças, nenhum país arrisca a aventura de uma guerra sem antes avaliar o risco a ser pago. E é nesse ponto que está a fortaleza dos mais fracos. Haja vista o que aconteceu no Vietnã. Tem de ser considerado, ainda, que não é apenas para um efetivo caso de guerra que um país necessita de Forças Armadas vigorosas. Como elemento dissuasório desempenham, também, papel da maior relevância. O Brasil tem adquirido importância crescente no cenário internacional.



Assim impõem as suas dimensões, a sua posição geográfica, a sua importância política e a sua já considerável pujança econômica. No entanto, não é preciso ser especialista em Política Internacional para perceber que, quanto mais nos projetarmos no cenário internacional, mais interesses de outro atores mundiais estaremos ferindo. Aí, tem de entrar em ação a diplomacia para negociar e defender os interesses brasileiros. É fato sabido que, no mundo, negociação sem
o respaldo da força tem pequenas chances de ser bem sucedida, pois são muito poucos aqueles dispostos a respeitar apenas bons argumentos.


Valho-me, novamente, do Barão do Rio Branco para reforçar essa idéia: “Diplomata e soldado são sócios, são colaboradores que se prestam mútuo auxílio. Um expõe o Direito e argumenta com ele em prol da comunidade; o outro bate-se para fazer vingar o Direito agredido, respondendo a violência com a violência”. Para reforçar essa tese, transcrevo trechos do livro de Margaret Thatcher – A Arte de Governar, editado pela Biblioteca do Exército, em 2005:


“A razão histórica e estratégica para que cinco membros sejam integrantes permanentes do Conselho e, nessa condição, possam vetar decisões da ONU é que cada um desses cinco países possua armas nucleares e, portanto, a capacidade de defender seus interesses por meios extremos.” (...) “Dessa forma, eu estaria preparada para, em circunstâncias julgadas adequadas, considerar, por exemplo, uma reivindicação da Índia, mas jamais de um estado não confiável....

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